"Foi quando abri meus olhos, e ao meu redor
encontravam-se meus familiares mais próximos. Eu não conseguia me expressar em
palavras, tão pouco mexer meus braços, nem minhas pernas. Muito menos
movimentar minha cabeça de um lado a outro. Apenas meus olhos, que seguiam cada
gesto daqueles a quem eu amava profundamente.
Meus ouvidos permitiam-me escutá-los perfeitamente, ao
que alguém indagou se eu compreendia tudo o que ocorria.
Minhas lembranças eram apenas da minha vida cotidiana,
junto aos meus entes em uma vida normal. Sentia-me amarrado, de certa forma,
até mesmo na memória do que teria me colocado naquela condição de imobilidade.
Meus pensamentos se misturavam com as palavras ditas
naquela sala e, eu, mais imóvel do que qualquer situação de minha vida,
agonizava-me sem que alguém percebesse.
Queria falar, mas a voz não me saia à garganta.
Desejava levantar e me libertar daquela sensação que aprisionava os membros do
meu corpo.
Pior eram a despedidas que se alegravam no dia
seguinte, quando dois ou três familiares retornavam. E, eu, ainda imóvel.
Os dias foram se passando, ao que percebi, os meses se
passaram. Já havia perdido a conta se já completara um ano ou mais daquela minha
paralisia física.
Minha memória não me aliviava em dizer-me de como ali
eu havia chegado.
Enfermeiras me cuidavam, ao que eu sentia-me um
"saco de areia" sendo virado de um lado a outro.
Subitamente, lembrei-me de Deus.
Se Ele existisse realmente, como poderia ter me
deixado naquela situação. Nem mesmo em saber o porquê de tudo aquilo.
Meus pensamentos vagavam entre as inúmeras visitas, às
cuidadoras de branco que jamais me deixavam, até que eu abandonei toda minha
esperança em livrar-me daquela aflição.
Entreguei-me, mesmo imóvel, ao "seja o que for,
nada poderia fazer."
Minhas lembranças passaram a visitar as diversas cenas
que eu havia vivido. Não recordava minha idade, mas podia ver minhas faltas que
eu tinha cometido. Minha "desgentileza"... muitas vezes meu ar de
superioridade a quem estava ao meu lado. Minha entrega soberana a um pedaço de
papel que venerava vê-los crescer em números bancários... Minha consciência
dava-me a certeza de que "de nada mais me servia" tudo aquilo, porque
nem mesmo pegá-los em minhas mãos eu poderia. Meu automóvel, que eu julgava ser
o melhor que os de muitos outros, e desfilava em 'soberbas' ao chegar em
refinados restaurantes, nem mesmo nele eu conseguiria mais me sentar. Assim,
estava eu literalmente jogado em uma cama de hospital sem mesmo saber o motivo.
Porém, ao decorrer do tempo, algo inusitado passou a
fazer parte dos meus pensamentos. Uma certa "alegria", ou talvez um
alívio, pois eu não precisava mais dos meus bens todos, porque nem me mexer eu
podia, senti. Mas, podia sim, mexer em minha consciência. Mesmo que nunca
alguém soubessem do que se passaria nela, pois minha fala era inerte.
Passei a ser meu único companheiro e me conhecer, me
arrepender, me criticar, me analisar... me reconhecer. Outras vezes ria de mim
mesmo, sem sequer meus lábios se expressarem. Outras me odiava, sem nem mesmo
minha expressão facial se mover. E assim, fui descobrindo o que significava a
vida terrena. Era uma passagem de transformação, e não para acumular bens
materiais. Ao que juntava também a soberba e um ego desprezível.
Era uma passagem por um plano material, que eu
desconhecia o espiritual, até o dia que percebi que alguns enfermeiros se
destacavam em cores daquelas que sempre me cuidavam.
Um deles, certa madrugada, disse: "levanta-te."...
E, eu, incrivelmente, levantei-me como se nada houvesse. Olhei-me deitado ao
mesmo tempo, senti-me livre.
Caminhei pelo hospital com aqueles doces cuidadores a
me guiarem até um belo jardim que encontrava-se numa das alas daquele prédio.
Tudo era físico, e ninguém nos via. Sentia-me liberto e, entendia, mesmo sem
palavras ou mesmo ouvi-las, tudo o que representava aquele instante.
Mentalmente, pedi para me retornarem para meu corpo. Imediato abrir dos olhos,
me colocou de volta à consciência física. Sabia que não havia sido apenas um
sonho e, sim, percebi que caminhei pelo astral da vida do mundo físico, com
amigos de branco que não recordava seus rostos.
Não importava mais nada. Eu estava onde deveria estar.
Até o dia que ouvi em uma das visitas dos meus familiares. "Ele está com o
semblante sereno". E, eu, estavam realmente em minha brandura interna,
tranquilo e consciente da minha verdade.
Certa vez, aproximou-se de mim, um amável tio, que já
havia deixado este mundo há tempos, junto a outros que eu desconhecia, ao
dizer-me "liberta-te de ti mesmo, está é tua hora do livramento, da
superação de mais uma vida, da tua vitória pessoal". Sem entender, percebi
certa correria no quatro que eu estava deitado. Enfermeiros tentando me reanimar,
enquanto eu em pé ao lado, sorria a meu tio em compreensão de tudo.
Queridos, eu havia vencido o corpo físico, que havia
me dado tudo aquilo que eu precisava para entender o que eu precisava entender.
Meu veículo carnal, imóvel e sem vida, havia me auxiliado a entender que tudo
que pertence a matéria, fica na matéria. Eu precisava daquela dolorida condição
em consciência, de minha imobilidade física, para entender de uma vez por todas
que não somos melhores que ninguém neste plano físico. Ninguém tem a verdade
soberana. Ninguém tem a absoluta verdade, meus queridos. E, muitos pensam e
sentem ter.
Somos apenas um espírito que usa um corpo físico,
ou... um...."saco de areia" carnal para transformar a consciência e
entender que tudo o que somos, não é deste plano. Aqui, é apenas uma mera
viagem carnal, para nos ajudar em nossa evolução e a volta à nossa essência.
Aqui, tudo acaba, tudo passa.
Queridos, vivam seus dias nesta terra da melhor forma
possível que puderem. Não queiram apenas juntar, acumular, como eu o fiz. Aprendam
a dividir e usar tudo, em benefício de quem precisa. E, claro, ao teu próprio
benefício também. Não te tornes um peso para outros, mas não torna-te cego
àquele que precisa.
Porque todos precisam do mesmo, e ninguém irá mudar
isso. Essa é a energia desta terra. Todos sempre precisarão do mesmo.
Amem-se... Ajudem-se...
Estendam suas mãos antes que sejas tarde demais. Pois,
querer move-la e não poder, é muito ruim meus queridos.
Não deixes que tua consciência te mostre que tu nunca
fez nada. Transforma-te, e ame teu irmão como a ti mesmo. A isso, inicia-te,
deixando de lado tua soberba e vaidade. Pois, jamais se esqueçam que todos são
iguais e... "Todos precisam das mesmas coisas para passar pela vida
terrena"
Sejas humilde por toda tua vida!
Psicografado pelo médium Cláudio Delbiagi
Pelo Espírito de Agnaldo Silveira
01/02/2023
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Centro Espírita no Ipiranga - SP
Você é nosso convidado. Venha conhecer!
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