"Acorde... levante teu espírito." - Disse eu.
"Ao clarear do Sol, te levarei ao teu portal reluzente. Aquele mesmo que, há milênios, te trouxe a esta Orbe, onde teve início tuas missões terrenas. Fecharás teus olhos e serás guiado pelas minhas palavras. Verás o que jamais viste, sentirás o que jamais sentiste e saberás o que nunca soubeste. Iremos somente nós, e em tuas lembranças te recordarás, em teu merecimento, durante tua vida terrena. Saiba, agora, que 'elos' quebrados não dão vida, e a força da natureza justa não se realiza. Tudo ao seu tempo.
Meu único e amado Irmão da Luz, incomparável a qualquer outro em meu sentimento, dele vem meu crescimento. Saiu do seu corpo e logo atingimos o campo astral, um longínquo campo astral. Para nossos espíritos, estávamos retornando a um passado distante, e para o físico era apenas um sonho.
De toda forma, lá estávamos. Pousamos nossos olhares nos velhos e costumeiros vilarejos, levitando até um imenso castelo espiritual, onde, no campo terreno, era uma imensa igreja. Descemos por entre paredes físicas e espirituais, simultaneamente, e logo nos encontramos com o corpo material do Santificado, perpetuado.
Assim é no mundo terreno, Santificado, e apenas mais um Ser de Luz do mundo espiritual. Venerado, amado e desconhecido em sua Verdade Cósmica para o mundo físico. Porque muitos não sabem e não creem no chamado 'improvável'. E, ali, seu corpo fora guardado eternamente, onde muitos derramavam suas lágrimas e depositavam suas esperanças em uma crença cega. E nós, naquele frio e escuro local terreno, recebemos aquela Santidade em espírito, assim como estávamos."
Sua Luz ofuscaria qualquer visão, e para nós trouxe um alívio inexplicável. Inexplicável porque ali tudo era inexplicável; tudo era movido pela fé, pelo invisível. Maravilhosamente, estávamos de volta ao Castelo Espiritual. Uma fronteira entre o desconhecido e o costumeiro. Gigante por sua magnitude, dourado por sua essência. Contornos violetas por seu poder. Não um poder de força, mas por pertencer à vibração Cósmica. Estávamos de volta a um sentimento verdadeiro e eterno, como se tivéssemos voltado para nossa essência, a nossa casa.
Passamos por sentinelas, espíritos de alta elevação que jamais provaram do físico e que cumprem suas missões muito além do conhecido amor. Cruzamos um aromático jardim, colorido por sua esplêndida natureza, e atravessamos uma ponte sustentada por um refrescante riacho que fortalecia sua beleza.
Logo, encontramos muitos grupos divididos em números de sete e onze que, sentados em círculos, tonificavam a cor violeta, emanando de suas cabeças ao universo, unidas ao Divino.
Um silêncio absoluto. Um cenário impensável à mente carnal. Ao fundo, fomos levados por mensageiros que circulavam por ali a todo instante a um pequeno altar dentro de uma espécie de igrejinha; não pude perceber exatamente o que era. Ali, nos aconchegando, recebemos a visita de um senhor muito simples, trajado apenas com uma túnica branca e um cajado em sua mão.
Sorrindo, nos disse:
"Poucos são chamados, porque poucos veem de coração. Poucos são chamados, porque poucos entendem o verdadeiro significado. Muitos vieram, e ainda virão, e poucos encontrarão o verdadeiro reino."
Ao falar, fui envolvido por uma Luz que ofuscou nossos olhos. Nunca havia presenciado tal energia. Ainda busco palavras para traduzir para o papel.
Prosseguiu:
"Tenho conhecimento da ciência dos poucos que passarão por aqui. Porque muitos vêm em nome do Senhor, e poucos lhe dão seus corações. Porque em cada canto do Universo, alguns têm seus nomes nas árvores frutíferas. Estes edificarão o amor, enquanto outros que aqui chegam destroem o verdadeiro amor. Estes edificarão conhecimentos, levando aos que lhes são iguais o mesmo saber, enquanto outros que aqui chegam não honram o que lhes vai em sabedoria. Estes edificarão vibrações, porque eles são vibrações adequadas para a sustentação da humanidade, e outros apenas verão tudo sentados em suas ignorâncias.
Unidos à energia do céu e à vibração do solo, é criada uma egregora onde os poucos merecedores são selados com a purificação de vossas almas; apenas estes. Os outros, até mesmo inconscientes, farão de tudo para que os poucos aqui não estejam. De uma forma ou outra, tudo é observado, e grande responsabilidade passa a existir, dessa vez, para todos. Cada um naquilo que plantou."
O Senhorzinho, de túnicas brancas e cajado nas mãos, levantou-se e, postando-se à nossa frente, continuou:
"Este é meu símbolo" — nos esticou seu cajado — "... a cada um tome sua própria cruz e realize suas missões. Porque elas pertencem adequadamente aos seus benfeitores. Não pises em solos sagrados para destruir seus significados. Purifique-se em teu espírito. Purifique tuas palavras e tuas atitudes. E aí sim busque tua jornada."
Ele virou-se e se retirou. Suas palavras haviam sido amorosas; porém, meu amado irmãozinho e eu não tínhamos compreendido de imediato seus significados. Subitamente, sem que percebêssemos, estávamos de volta ao dormente corpo Santificado. Olhamos com mais nitidez e notamos que o senhorzinho que nos havia dado suas palavras era o Santificado, em sua própria imagem de espírito. Não estava sentado em tronos ou com coroa de ouro na cabeça. Não pertencia a Reinos Sagrados, vendidos pelo homem como milagreiro. Sua energia era sustentadora de todo um trecho do físico, e seu poder nada mais era que a força da humildade. Muitos o tinham como o Santo capaz de realizar prodígios, e seu maior ensinamento era a simplicidade de coração. Assim, fizemos o caminho de volta, e meu irmãozinho, pelo fato de estar ali em desdobramento, já adormecia devido à conexão com o físico. Levamo-lo até seu veículo terreno e retornamos ao nosso lar.
Sejas humilde por toda tua vida,
AGNALDO SILVEIRA